A técnica de Fluorescência de Raios X (XRF) emerge como um método analítico crucial na avaliação comparativa da composição elementar entre a barbatimão, uma planta utilizada tradicionalmente na medicina popular brasileira, e duas pomadas comerciais destinadas à cicatrização.
A análise proporciona uma visão detalhada dos elementos presentes em cada amostra, destacando diferenças notáveis, especialmente a presença de prata nas pomadas.
Essa abordagem científica, baseada nos espectros de XRF, fornece insights valiosos sobre as propriedades químicas das amostras, contribuindo para uma compreensão mais profunda das potenciais aplicações terapêuticas da barbatimão em comparação com produtos comerciais.
Para saber mais sobre o funcionamento da Técnica de Raios X leia: O que é a Fluorescência de Raios X?
Conhecendo o Brasil e sua riqueza: a técnica de XRF para análise da medicina popular brasileira
O Brasil destaca-se pela sua diversidade ecológica, contribuindo para uma flora única que abriga muitas plantas com propriedades medicinais. A tradição no uso dessas plantas medicinais remonta aos indígenas e persiste em diversas comunidades, especialmente em regiões mais remotas ou com acesso limitado à medicina tradicional, sendo essa prática mais comum em países em desenvolvimento, representando cerca de 80%.
As plantas medicinais desempenham um papel fundamental na fabricação de fitoterápicos e outros medicamentos. Na cultura brasileira, tanto os indígenas quanto a população de cidades do interior, fazendas e os mais antigos, usufruem das plantas como recurso terapêutico. Muitas dessas plantas são utilizadas como remédios caseiros, sendo a primeira opção para o tratamento, uma vez que se encontram plantadas nas residências de muitas famílias brasileiras.
Um estudo recente destaca uma técnica inovadora chamada fluorescência de raios X (XRF), que está sendo utilizada para analisar a composição de pomadas medicinais caseiras a partir da planta de barbatimão e comparando-as com pomadas do mercado farmacêutico. Essa técnica revela detalhes das propriedades químicas das amostras, aprimorando o conhecimento e estudo nesses tradicionais tratamentos populares.
As pomadas cicatrizantes, veículos que levam princípios ativos à pele, têm como objetivo acelerar o processo de cicatrização, auxiliando as células da pele a se recuperarem mais rapidamente. No entanto, a “medicina popular” muitas vezes recorre a recursos naturais, como a barbatimão (Stryphnodendron adstringens), uma planta típica do cerrado brasileiro com propriedades medicinais reconhecidas.
Sua casca e folhas contêm quantidades consideráveis de taninos, alcaloides, flavonoides, terpenos, estilbenos, esteroides e inibidores de proteases, conferindo-lhe propriedades anti-inflamatórias e supostamente antimicrobianas.
A Fluorescência de Raios X (XRF) é uma técnica analítica que mede a intensidade de raios X característicos para determinar a composição química de uma amostra.
A análise comparativa qualitativa da composição elementar da barbatimão, utilizando a técnica de Fluorescência de Raios X (XRF), com pomadas comercialmente disponíveis para cicatrização, busca avaliar a eficácia da barbatimão em relação às opções industrializada.
Essa abordagem científica visa proporcionar compreensão sobre a utilidade e potencial terapêutico dessa planta na cicatrização, alinhando conhecimentos tradicionais com métodos analíticos modernos.
Análise Científica Revela Composição de Tratamentos Naturais: Um Estudo Detalhado das Pomadas de Barbatimão
A barbatimão foi adquirida no comércio popular do Rio de Janeiro, RJ, e submetida a um processo de desidratação em estufa. Posteriormente, a planta foi triturada, macerada e transformada em forma de pastilha utilizando um compactador e uma prensa hidráulica com pressão máxima de 15 toneladas, sendo aplicadas 10 toneladas de pressão por 180 segundos. Esse processo é essencial para garantir que a superfície da amostra fique plana e lisa, evitando a difusão dos raios X emitidos durante a análise por Fluorescência de Raios X (XRF).
Duas pomadas comerciais, sulfato de neomicina (3,5 mg/g) e sulfadiazina de prata 1%, foram utilizadas sem a necessidade de preparação adicional, sendo irradiadas diretamente para a análise.
Para a análise qualitativa das amostras, empregou-se o Espectrômetro de Fluorescência de Raios X Tracer, da Bruker. A irradiação ocorreu por 120 segundos, com 40 kV e 10 mA, sendo realizada em três pontos distintos de cada amostra. Posteriormente, os dados foram submetidos à análise espectral no software OriginPro versão 8, utilizando as médias de cada amostra. A identificação dos elementos foi realizada com base nos valores de energia (em keV) associados a cada pico, verificando-se na carta de linhas de emissão (Ka, Kb, La e Lb) o elemento correspondente.
A figura 3 revela a presença dos elementos Cl, Fe, Ni e Cu na análise da barbatimão. Ao compará-la com a amostra da pomada sulfadiazina de prata (figura 4), nota-se que a barbatimão também contém K, Ca e Br, elementos ausentes na pomada. A principal diferença elementar entre as pomadas reside na presença de prata na sulfadiazina, que historicamente foi um tratamento comum para diversas infecções e queimaduras devido às propriedades antimicrobianas e anti-inflamatórias dos íons de prata.
A análise comparativa com as figuras 2 e 3 mostra que a planta possui, no mínimo, a mesma composição química da pomada apresentada na figura 3. Em comparação com as figuras 2 e 4, a planta também se assemelha, exceto pela presença de prata.
Adicionalmente, a planta contém potássio (K), cálcio (Ca) e bromo (Br), ausentes nas pomadas estudadas. O bromo auxilia na recuperação do tecido, enquanto o cálcio contribui para o processo de cicatrização.
Não foi realizada uma análise quantitativa, mas a semelhança na composição química sugere que a barbatimão pode ter propriedades terapêuticas comparáveis às pomadas analisadas, justificando seu uso tradicional em populações com acesso limitado à medicina convencional.
Análise de elementos por XRF
A semelhança na composição química entre a barbatimão e as pomadas, excluindo a prata, sugere que essa planta pode apresentar propriedades terapêuticas comparáveis.
Além disso, a análise evidenciou a presença de potássio, cálcio e bromo na barbatimão, elementos ausentes nas pomadas estudadas. O bromo, conhecido por suas propriedades fisiológicas importantes, pode contribuir para a recuperação do tecido, enquanto o cálcio desempenha um papel crucial no processo de cicatrização.
O uso do XRF não apenas validou a composição química da barba de timão, mas também ressaltou sua relevância potencial no contexto terapêutico.
Essa abordagem científica, ao integrar conhecimentos tradicionais e métodos analíticos modernos, destaca a importância de explorar recursos naturais para possíveis aplicações clínicas. A compreensão mais profunda das características químicas proporcionada pelo XRF oferece um caminho promissor para futuras pesquisas e desenvolvimento de terapias baseadas em produtos naturais.
Em última análise, a Fluorescência de Raios X emerge como uma técnica analítica valiosa, capaz de fornecer informações precisas sobre a composição elementar de amostras complexas. Isso contribui significativamente para o avanço do conhecimento científico e a exploração de recursos naturais no contexto da medicina e terapia.
Fontes:
LUIZ, L. D. C. et al. [ID 37537] USO DE FLUORESCÊNCIA DE RAIOS X (XRF) PARA FINS DE COMPARAÇÃO ENTRE A COMPOSIÇÃO ELEMENTAR DA BARBA DE TIMÃO [STRYPHNODENDRON ADSTRINGENS (MART.) COVILLE] COM OUTRAS POMADAS CICATRIZANTES. Revista Brasileira de Ciências da Saúde, v. 23, n. 2, 5 jul. 2019.